domingo, 28 de março de 2010

A moça do espelho.

domingo, 28 de março de 2010


Conheci uma moça que não consegue combinar as peças de roupa, rói unhas e corta seu próprio cabelo. Ela não é bailarina, não sai bem em fotos e nunca foi a mais bonita. Ela senta em qualquer lugar, já teve piolho e não sabe usar o delineador de olhos. Não tira as melhores notas, não tem talento musical, nem sabe costurar. Às vezes, ela deita na grama, olha pro céu, e vê um mundo nas nuvens. E, tem vezes, que ela não tem vontade de sair do cubo de concreto onde dorme. Esta moça usa óculos remendados, brinca de escrever, e tem a boca feito um traço fino. Poderiam retirar tudo desta moça, menos as pontas dos dedos. É pelas pontinhas dos seus dedos que ela descobre a vida. Ela toca tudo com tanta intensidade, que se torna prepotente, e afirma ser o próprio sentir.
Esta moça que conheci, possui mistérios, possui cachoeiras internas e chuvas constantes. Ela é mais forte do que imaginava e mais fraca do que esperava. Esta moça é uma desconhecida dela mesma. Ela é um sonho. Cria fantasias em seu caos. E se desespera quando nota que sua fantasia ainda é fantasia. Ela dança sem ritmo, sem classe e não tem bom gosto. Não sabe comer macarrão sem sujar a boca e troca banquetes por um prato de miojo. Não sabe passar esmalte, mas pinta quadros, caixas e cerâmica. Confunde letras de música, e não esquece o modo como as pessoas piscam os olhos. Costuma ter as mãos frias e tremulas, e fica vermelha em algumas situações.
Esta moça acredita em horóscopo, signos, tarô, brincadeira do copo, Jesus, Buda e Crowley.
 Ela é forte, mas anda triste. Anda por aí apagando as estrelas que espalhou. Anda por aí desejando apagar as luzes que acendeu. Ela me disse algumas palavras, mas, chorava tanto, que mal consegui decifrá-las. Parece que ela morre quando o conto de fadas acaba. Ela disse algo sobre não suportar ouvir a canção ciranda cirandinha... Desde que a conheci, estou que não me agüento de preocupação. Mal consigo dormir, pensando nas luzes se apagando e fico com medo dela desistir das fadas...
(...)

Vazio.

E tem horas que meu peito fica pequeno pra aconchegar meu coração. E, tem horas, que meu coração se aperta tanto que o espaço ao seu redor parece grande demais. Um passo pra me sentir só. Rodeada pelo vazio. Vazio interno. Vazio meu. Vazio angustiante.
Vazio que antes era a moradia do meu conto de fadas. Vazio que já foi o altar que a noiva aguarda. Era o felizes para sempre de outrora. Vazio que corrói minhas entranhas.
Vazio que me tira o ar. Vazio que me obriga a acreditar que a realidade é distante daquela que imaginei. 

terça-feira, 23 de março de 2010

Sobre a Lógica e Eu ...

terça-feira, 23 de março de 2010
Se tem algum tipo de passatempo que eu gosto, ele se chama "desafios de lógica". Sim! Passo horas em uma concentração invejável, buscando o máximo de afirmações que uma dica pode me oferecer. É fascinante encontrar as soluções antes de ler a próxima dica. E quando as suposições vão se transformando em certezas, tenho orgasmos intelectuais. O desafio naquele instante passa a ter vida própria, dança comigo, uma intrigante valsa. Sem contar a expectativa que vira nuvem na minha cabeça, prestes a chover; ou como o enigma da Esfinge "decifra-me ou te devoro". Há momentos que me vejo fantasiada de Sherlock Holmes, em um cenário desconhecido, sendo instigada e claro, me instigando.Eu gosto também é do "sim" ou "não" que o desafio impõe. Não há espaço para o famoso "depende". Ou "é" ou "não é"!Simples assim. É uma forma deu projetar todos os meus milhões de "depende's" e canalizá-los em um jogo. Uma válvula de escape, que além de muito prazerosa, ainda tem benefícios para o funcionamento do cérebro. Sim! Um brinde aos desafios de lógica... E aí? Quantas dicas você precisa?

domingo, 21 de março de 2010

Curuminha...

domingo, 21 de março de 2010

Muito tempo se passou, e agora a curuminha retornou, e não quer mais aceitar essa vida de aparências...
Pelas ruas ela vagou, procurando encontrar um cantinho aconchegante, onde pudesse descansar e quem sabe até morar. Ela andou por tudo ali, e onde foi logo se viu, que ela era diferente e um alvoroço fez surgir. Assustada a curuminha, histórias de gente grande inventou pra tentar tirar do olhos aquele brilho infantil...
E descalço ela andou, pegou chuva aos montão, e de novo, na multidão, se viu em meio a solidão. Quando se sente só, a curuminha não tem medo, ela senta, abaixa a cabeça, fecha os olhos e se entrega. Se entrega a solidão, acha gosto e se sente segura, porque passa a não ter nada que se possa retirar-lhe ou arrancar-lhe.

Somos uma finalmente. Eu e curuminha. E a plenitude me alcança, sinto-me pluma outra vez. Embriagada pelo Cosmo. Tornando-me o amor. Extinguindo à necessidade. Não mais procurando a curuminha nos outros. Não mais buscando os braços, abraços e beijos da curuminha em alguém. Não mais desejando que o outro responda algo que só a curuminha pode dizer.
E a curuminha me sorri, as lagrimas escorrem dos meus olhos. Ela voltou, a curuminha voltou. E, de repente, ela mergulha lá pra dentro, dentro de mim. Bem-vinda curuminha!

sábado, 13 de março de 2010

Tilintar...

sábado, 13 de março de 2010



 Foi como se já o conhecesse. Um toque efêmero e as palavras de ambos convergiram-se e atraíram-se no invisível. Elas tilintaram-se estrondosamente provocando barulhos que jamais poderiam ser audíveis. Simplesmente por estas irem sobrenaturalmente, além do som, possuindo inclusive, cheiro e sabor...
Assim ela o encontrou. Recebeu-o como um reencontro de almas. 
O sol brilhou, a lua com toda elegância enfeitou a noite, e o coração da menina-mulher, jamais quis ser o mesmo. 
Talvez fosse vez de a utopia brincar de viver, não seria justo impedi-la.
A razão, que antes era a deusa inabalável, sentiu-se inferiorizada e ridicularizada por não conseguir explicar a escassez vontade de adormecer. Só depois ela entendeu, que o corpo não desejava mais viver de ilusões obtidas quando este adormecia, se a realidade do físico acordado conseguia ser mais agradável do que os antigos sonhos mais belos...
A menina-mulher ao encontrá-lo perdeu-se. Ela abdicou da segurança do caminho para casa, e deixou-se levar, para tentar alcançar novos horizontes, mesmo sem saber o seu futuro trajeto, e só por isso anda perdida por aí...

Tarô


O Tarô surgiu em minha vida de forma sutil, encantadora e doce. Ele olhou pra mim e tentou me decifrar, eu retribui o seu olhar, e ousei decifrá-lo. Nunca consegui. Mesmo dedicando horas, com o olhar compenetrado em cada arcano, o tarô ora se mostrava a mim e ora se escondia, como se ele se transformasse em mero baralho.

O Tarô, carrega em si um mistério, fascinante, como um portal que pode ou não estar acessivel. É como o "desejo". É o elo que liga o existente do não-existente. É pessoal. É intimo. É fiel. É sincero. É você. Sou eu.
Pode ser como um livro, como um jogo, pode ser fonte de dinheiro e mazelas, pode ser um amuleto ou mesmo uma muleta, pode ser artigo de crença ou mesmo de repreensão...
O Tarô é um universo de Arcanos Maiores e menores, de plenitude e vazio, de espiritualidade e materialidade, de clareza e mistério...
(continuarei)

quinta-feira, 11 de março de 2010

Desabafo sobre as lagartas e eu...

quinta-feira, 11 de março de 2010
Costumo medir o nível de intimidade que as pessoas possuem comigo, pelo grau de conhecimento que elas possuem em relação ao meu pavor pelas lagartas. Em outras palavras, quanto mais próxima a pessoa é de mim, mais ela sabe que tenho horror a lagartas. No entanto, nem eu mesma sei o "porque" de ter desenvolvido tal fobia e com tanta intensidade.
Lembro que quando era criança, não sentia medo algum, até gostava de coloca-las na palma da minha mão e deixa-las passearem...
Já fui queimada duas vezes, mas estes eventos aconteceram posteriores ao desencadeamento da fobia, então não foram, o inicio do medo.
O simples fato de eu estar a falar sobre este bicho terrível, já me sinto arrepiada e fazendo todos os tipos de caretas. Mesmo assim, resolvi tentar traduzir em palavras este desespero, como tentativa de me livrar ou reduzir o tal pavor.
Na minha mente, as lagartas estão em todos os lugares a qualquer tempo. Para mim, lagartas não estão sujeitas às leis da física. Elas superam tudo, e a razão da vida delas é se instalarem em algum ser humano. Chega a ser ridículo. E, realmente minha aversão por tais bichinhos é ridícula.
Já tirei livros e livros da estante do meu quarto, certa vez, após um pesadelo, porque insisti na idéia de que atrás dos livros tinham lagartas escondidas.
Outra vez, fiz um escândalo na sala de aula, acompanhado de um choro compulsivo, depois de um amigo criar a possibilidade de existir uma lagarta nas minhas costas.
Sem contar, as inúmeras vezes que deixei de ir, passar ou sentar em lugares que pressenti ter algum vestígio do bicho feio.
O pior de toda essa fobia é que, parece que as lagartas percebem o cheiro do meu desespero e se sentem atraídas a mim...
É absurdo, mas sempre tem um bicho desses nas minhas proximidades. Uma vez, andando de pedalinho com minha mãe (que também morre de pavor de lagartas) no meio de uma lagoa, eis que surge o bicho nojento ali... Bem ali no pedalinho... Aff!
Outra vez, eu deitada na beira da piscina, e de repente, cai na minha perna o bicho terrível... E, mais recentemente, trouxe de carona na minha calça, um bicho desses, e quando a expulsei no impulso, ainda fui queimada no dedo...ARGH!
Sem contar as milhares (sem exagero) de vezes que as lagartas já fizeram parte dos meus piores pesadelos. Aliás, elas são o pesadelo real.
É uma fobia nem um pouco conveniente, que sei ser necessário que a supere. Mas, não consigo nem imaginar a possibilidade de um encontro, cara a cara, entre eu e elas...
Ao escrever isso, a cada meio minuto eu passo minha mão sobre meus cabelos e minhas costas, para certificar-me de não ter nenhuma em mim, lendo o que escrevo.
É incontrolável. Irracional. Uma mistura de nojo, de medo, de repulsa, de pavor e incompreensão. É um dos meus maiores segredos comigo mesma...
Mas, por enquanto, nessa batalha, as vencedoras são elas...

PS. Este post não terá imagens, por motivos óbvios. hehe

segunda-feira, 8 de março de 2010

A Arte de ser Música...

segunda-feira, 8 de março de 2010


A vida não cansa de musicalizar-se.
O cotidiano é embriagado de ritmos.
Tudo junto e separado, tocando harmoniosamente em uma gigantesca orquestra.
Eu canto alto, o canto de viver. Canto alto a canção da caça. Canto o choro da minh’alma. Canto as gargalhadas. Canto sobre o que é, o que foi e o que será. Canto a vida e canto a morte.
Canto alto e desafino. Diminuo, mas não paro.
Até o meu silencio é musica. Meu canto é o palco, a platéia, o show e os aplausos. E, mesmo o vazio repete meu som. Meu piscar são “asas ritmadas” e meu mover é a voz do Universo. Sou música porque canto e até muda o seria.
“Canto por isso existo”.

domingo, 7 de março de 2010

Irmão Fênix (2)

domingo, 7 de março de 2010
Lá no topo mora um ser...
Que como criança repousou
crendo que a multidão velava seu sono
E sem se preocupar seus olhos fechou...
 
Os seus olhos só se abriram
Quando o fogo o dominou...
A sua casa destruíram,
as labaredas trucidaram
e o templo sagrado gritou.
 
Sua pele se desfez
O seu coro colado está na pedra
Marca o seu território
Ainda que lá não mais está
 
Ao seu encontro logo fui
sem temer e nem pensar
Precisava logo ver, que nem o fogo conseguiu
calar aqueles olhos infantis que um dia me encontraram...
 
Queimado!Sua casca triturada.
Bem no dia que com gosto se limpou.
Na Luz do dia para que o escandalo exista.
Bem ali...No centro...No meio dos seus...
 
Seu lampião da vigia andava apagado
E, fortemente acenderam
Para fazer jus ao seu nome "Santos dos Santos"
Usaram o fogo da purificação.
 
Agora mais que antes
O espelho tentará com seus reflexos
o enganar
E gritará que não passas de cinzas...
 
Tivera de ser com ele...
Somente o mais forte aguentaria
Transcender a dor
com gritos mudos!
 
Seu templo ali enfaixado
Marcado pelo sangue
Mesmo assim Intacto, Inquebravel, Irrepreensivel

Seguro a sua mão
O encontrei, ainda que ele tenha mudado de corpo.
Nem um segundo ele murmura,
E, juntos falamos do por vir
 
Dou-lhe um beijo, no unico centimetro da sua face,
que o fogo não tocou
Um sorriso ele me dá, e nunca mais serei a mesma
Assim eu saio e parte do meu coração ali fica
 
Amigo?
Não...
Irmão!
Irmão que já faz parte do que sou...
Meu irmão fenix. 

Irmão Fênix (1)

Lá no topo mora um ser
baixo, forte e de cabelos embaraçados
Suas mãos de tão puras, são sujas...
Ele troca as palavras e respira seus significados.
Vive dele mesmo e se alimenta de escorpiões
O suficiente lhe basta
Como um pássaro, sem penas, ele alça vôos metais
E trança palha horas a fio
Se empenha em encaixar a miçanga no trançado
E seus olhos, de criança,  me chamam
Seus dedos dançam, como mágica
E ele sabe tudo, sem saber nada
Ele esquece meu nome, mas lembra de cada piscar de olhos que dou
Seu cheiro é natural, e diz que cheiro demais
O pouco que ele me oferece é tudo que ele tem
Pouco?
A chuva nos molha e minha maquiagem se vai
Meus enfeites se perdem
Minha mascara cai
Enquanto ele continua intacto, inquebrável, irrepreensível
Ele quer que eu lhe mostre meu mundo
Mas estou a buscá-lo
ainda não sei onde encontra-lo...

Blá...


Através do que sinto dia a dia, o abstrato converte-se em concreto, e intuitivo.
Então percebo que respiro para eu mesma, pois minha alegria e meu sorriso me condicionam completamente. Egoísmo?
A cada sol, reconheço minha vida.
Ah! Quando sinto a amargura da solidão, quase exibo a má lucidez, a exigir algo de tal eu.
Não sou livre. Por vezes minhas crenças me aprisionam. Escolho convicções dentre algumas opções.
Ah! Como é doloroso aprender a construir o que faz sofrer. 
                                                                                    Ser esmagado pelo comprometimento a si mesmo.

sexta-feira, 5 de março de 2010

O sol voltou...

sexta-feira, 5 de março de 2010


O dia não amanheceu chuvoso. As nuvens se dissiparam. O sol ergueu sua espada novamente e expandiu, grandiosamente, seus dourados raios pelo horizonte, que antes se encontrava sombrio. Infértil. Era assim o horizonte sem ele. Desabitado. Triste. Assombrado. Como se nada mais ousasse existir.
Até que ele voltou, forte, poderoso. O sol voltou. A frieza, que antes andava se auto-superestimando, sem nada argumentar tratou de desaparecer. Ninguém sabe. Ninguém viu.
O sol voltou. Fez-se risos. Fez-se mãos. Fez-se olhos. Toques.
Fez-se real.
O meu SOL...

terça-feira, 2 de março de 2010

Sobre a virtualidade e seus sabores...

terça-feira, 2 de março de 2010


Há momentos em que mergulho na virtualidade. Naquele mundo, onde quase tudo me é permitido, e quase tudo me convém. A idéia da “possibilidade”, do “suscetível de se realizar” é excitante.
Começo a me perceber tão transparente, tão eu mesma, quando acho estar a criar um fake ou uma Yeruska. Em um clique sou eu. E, no outro, vejamos, eu de outra forma.
Sabe, quando você está em um lugar público, e de repente acaba a luz, e um tanto de gente começa a gritar? Simplesmente pelo fato, de não ser reconhecido... É assim. Na virtualidade, você tem direito ao grito. Dedos gritando e olhos ouvindo. 

segunda-feira, 1 de março de 2010

Cheiros...

segunda-feira, 1 de março de 2010
Qual o cheiro você está sentindo agora?
Arroz torrando? Perfumes alheios? Auto-perfume? Incenso? Cachorro molhado? Roupa mofada? Papel velho? Cheiro de chuva? De terra molhada? De roupa limpa? De criança sapeca? Cheiro de consultório médico? De esgoto? De dama-da-noite? De desinfetante? De cebola? Cheiro de nariz do outro? Cheiro de cigarro aceso? Cheiro de ônibus lotado? Cheiro de coisa nova? Cheiro de tudo? Cheiro de nada?

Eu ando sentindo o cheiro de rosas brancas, só não sei de onde vem... 
 
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