O que um dia foram meras gotas na janela, transformaram-se em dilúvio...
Era ele pela rua, adentrando à noite escura. O pior era o temor de ver seu reflexo em uma poça formada na avenida. Ali sem abrigo. O Universo o expelia, o Universo o expeliu para o seu universo particular...
Mas, ele não cabe no formato universal.
Era extenso demais.
Sua roupa colorida, com listras descombinantes, cheia de babados assimétricos está ensopada. A peruca cacheada, que já estava desgastada, agora se encontrava com cabelos escorridos e certamente mofarão com essa excessiva umidade.
Na rua alagada ele só vê pés, não ousaria levantar a cabeça e deixar que vissem que sua maquiagem se borrou. A boca perfeitamente desenhada de outrora era agora um borrão branco sujo. Precisou tirar o nariz de plástico vermelho, porque com tanta água no seu rosto não podia respirar só pela boca.
Pelas esquinas ele se impunha, torcendo ser hoje o dia que um carro não paralisasse seu motor e o acertasse. Mas, não havia carro que não o notasse.
Era grande demais.
Então ele só queria sua casa, as roupas chamativas e empapadas o incomodavam.
Era ele a alegria feroz de varias pessoas. A felicidade demoníaca daqueles que cabem perfeitamente no formato Universal, era ele.
O Palhaço Triste só queria a sua casa.
Andava sem rumo, ruas e ruas, cruzamentos e cruzamentos, mais se arrastava do que andava. Parar que era perigoso. Se parasse, poderiam notar que seu sapato engraxado e lustrado, não mais tinha solado, e seus pés estavam gastos.
Da sua desmedida desolação ele só queria que fosse disfarçado.
Alguém, na calmaria quente e seca de uma marquise, disse em meio a risadas explosivas: Que coragem, hein, palhaço! Mas, não era coragem, era o temor. O escuro. A chuva. O medo. Ele não se encaixava no universal.
Era vasto demais.
A verdade, sem pudor, é que o gerador de risadas, tinha chorado. Constantemente, chorado.