Tudo bem. È que ainda me assusto. É que ainda nem sequer contei tudo. Não mencionei que, por vezes me sento imóvel, como se não participasse do mundo, apenas o observasse. Observasse como quem se encontra além do dualismo, e como se me fosse permitido ignorar as particularidades e mergulhar em julgamentos. Isso. Como se eu pudesse concluir sentenças por meio das minhas observações. Me sento imóvel e observo um palhaço triste. Um grande palhaço triste. E eu sabia que enquanto eu o observava o mundo me escaparia e eu me escaparia. Pois observava-lo era engraçado, quase me explodia em risos. E rir me contradiria, contradiria em mim a minha substancia. Então, aquilo que, por respeito a mim, eu não queria rir, então eu ri. Não tolerei me interromper, e ri. O que na verdade eu já estava rindo.
Só haveria um modo de me impedir. Era sê-lo. Como se o pecado da risada, me absolvesse, e até mesmo se tornasse um antipecado, a partir do instante, que ele (o palhaço triste) fosse eu.
Só haveria um modo de me impedir. Era sê-lo. Como se o pecado da risada, me absolvesse, e até mesmo se tornasse um antipecado, a partir do instante, que ele (o palhaço triste) fosse eu.
Estaria eu alargando demais a risada e toda a coisa, para exatamente ultrapassar o palhaço e o meu eu? Acho que não. No entanto, ao me transformar nele, prossigo em sentido oposto. Em rumo a aniquilação do que arduamente construí. Prossigo em rumo a despersonalização. Sim. De repente, me despersonalizar torna-se meu ideal. Despersonalizar-me é a minha manifestação máxima, que tão logo, nem sequer poderia chamar “minha”. Se, finalmente, me alcançar pelo ato de despersonalizar, poderei reconhecer o alheio sob qualquer aparência ou disfarce. E, verei não mais a maquiagem estereotipa do palhaço triste, mas o humano comum a todos os humanos. E pela simples existência dele, me será revelado quem sou.