Era cedo e eu caminhava achando beleza em tudo. O sol dourava as flores e a grama, tornando cada cena, como uma fotografia envelhecida. Então, fui tomada por um espasmo: Deus existe! Sem o menor senso de soberba ou superioridade, por mera contemplação, me sentia filha Dele...
E foi quando quaaaaase esmaguei uma lagarta gorda, verde e peluda. Em frações de segundo, encontrava-me arrepiada pelo pavor de estar viva. De repente, me tornei pânico e mesmo assim tentava inutilmente, reprimir o grito de terror entalado em minha garganta.
Comecei a correr, sem ver carros ou pessoas, até estar suficientemente longe, a ponto de evitar um contra-ataque da lagarta.
Tremia bastante, mas continuei a viver. Sem acreditar, voltei a caminhar, com minha boca de traço, voltada para baixo. Tentei extirpar o elo entre os dois ocorridos: o sentimento de Deus e a Lagarta. Não consegui. Havia uma conexão não lógica, oculta, entre os fatos.
Revoltava-me que uma lagarta pudesse ser o meu efeito oposto. Argh!!!
Puta que pariu! O que Deus queria me dizer?
“Olha sua tola, pare de amar assim distraidamente” ou “Pare de olhar aqui pra cima, a menos que seja para se prevenir que uma lagarta caia em você!”.
Eu calmamente caminhando, contemplando o mundo, sem me queixar e sem nada pedir, amando simples e puramente, quase levitando, e Deus a me jogar uma lagarta?
A indelicadeza de Deus me insultou. Ele era rude.
Continuei a caminhar, agora pesadamente. Preferia esquecer, mas era inútil. Só uma coisa na minha mente, precisava me vingar... Mas, Como? Ele é Deus! Humm, já sei!
Foi aí que sem o mínimo pudor resolvi publicar este texto. (Pode ser desprezível contar as particularidades alheias, mas Ele também jogou baixo comigo). Isso mesmo!
Resolvi espalhar o que me ocorreu, e sujar a fama de “Homem” bom que Ele possui... Por pura vingança!
Mas, ao escrever tudo isso fui obrigada a refletir (Agora era a revanche Dele comigo):
Vai ver que eu também sou lagarta, e achava que por existir Deus, já estava pronta para me encarar.
Pois é! Só porque contemplei o dia, achei que amar não era difícil. Não percebi que é justamente na entrega do que não se compreende que há a oferenda...
A verdade é que nas minhas profundezas, eu só desejo amar o que já amo, ou o que certamente amaria, e não como a coisa é. E a lagarta verde existe tanto quanto eu, e a velocidade x tempo nos iguala.
É Deus... Dessa vez você venceu... Mas, me aguarde! E, não se distraia... Sim! É uma ameça!