Quanta confiança na desconfiança.
Tornar-se seguro mediante a insegurança.
Quanta morte com aparência de vida.
Obrigar-se voluntariamente a tolerar a intolerância.
Atrair-se pela distração.
E as liberdades aprisionadas,
O infinito encaixado no finito (...).
Quanta crença naquilo que não se acredita,
E até para se esquecer,
É necessário lembrar.
Saber justamente o que menos se sabe,
As poucas instruções se tornam grandes.
Quanto mais se fala, menos se ouve.
Cada dia crescem os gritos mudos,
E os olhares de cegos.
(E dizem que para se ver é imprescindível fechar os olhos.)
O que mais se conhece é a existência do desconhecido.
O que se pensa ser cheio é composto de vazio.
Mesmo assim, ter de continuar parada a caminhar, por esse ordenado precipício da desordem...
E menos x menos resulta em mais, no entanto, mais x mais não resulta em menos.
Quanto mais se almeja por simplicidade,
Mais complicado se torna.
E os rostos risonhos, choramingam “que o que querem não fazem, e o que fazem não querem”.
Um compasso descompassado.
Desespera-se por medo de se perder o que nunca se teve.
Quanta cobrança a cerca do que se recebe gratuitamente.
Deseja-se explicar o caminho, exatamente pelo não-caminho.
A utilidade se demonstra inútil.
A relatividade é absoluta.
E é totalmente comum ser parcialmente diferente.
Quanto mais frio, mais procuramos o quente.
Quanto mais rodeado por multidões, mais solitários.
(E dizem que é bonito dar, e feio esperar receber).
O presente é constituído de passados e futuros que já se destituíram.
As pessoas que mais nos observam,
São as que menos querem nos observar.
E diz-se adeus, quando quer, por tudo, ficar.
Quantas vezes nos acomodamos com o incômodo.
E por que o “diabo” anda de mãos dadas com “Deus”?
Ainda se assustam quando digo que não sei viver,
E que devoro o miolo pelas bordas.
É que preciso do meu contraponto.
Mas, mal sei respirar,
Quem dirá inspirar...
E para encontrá-lo é preciso perdê-lo.
E para perdê-lo é preciso tê-lo.
E eu nem se quer tenho a mim.
Mas vou.
Sim!